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quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Por que o homem não pisou mais na Lua?




Por que o homem não pisou mais na Lua?
Em 21 de julho de 1969, às 2h56 no horário local (0h56 no horário de Brasília), um ser humano - no caso, Armstrong - pisou pela primeira vez na Lua. A notícia estremeceu o mundo. Outras cinco expedições americanas chegaram ali até dezembro de 1972, quando Eugene Cernan fechou o ciclo de alunissagens, ou seja, de pousos na superfície da Lua. Depois dele, nenhum homem voltou ao satélite natural da Terra em mais de 45 anos. 
Muitas teorias de conspiração foram criadas deste então para apoiar a ideia de que as alunissagens nunca aconteceram e que as imagens que se difundiram não foram nada mais do que montagens feitas em estúdios de televisão. Mas os motivos, na verdade, são outros: dinheiro, relevância científica e, é claro, questões políticas. 
Estados Unidos enviaram seis tripulações à Lua entre 1969 e 1972
Mas quase meio século depois, o governo dos Estados Unidos anunciou que pretende voltar ao satélite em breve. E que isso pode ser só uma primeira parada em uma jornada para a conquista de Marte. 
Na segunda-feira, o presidente Donald Trump aprovou a Diretriz de Política Espacial 1, uma ordem presidencial que autoriza a Nasa a enviar novamente missões tripuladas à Lua. 
A previsão é que a diretriz, que foi firmada sem consulta prévia ao Senado, só entre em vigor quando restar ao presidente dois anos na Casa Branca. Mas tendo em vista os prazos para a aprovação dos orçamentos, muitos especialistas temem ela não será efetiva - a menos que Trump seja reeleito em 2020. 
Entenda a seguir o que fez os Estados Unidos, e nenhum outro país, não enviarem uma tripulação sequer à Lua em quase meio século - e por que isso pode mudar agora. 
Armstrong foi o primeiro homem a pisar na Lua
QUESTÃO DE ORÇAMENTO 
Com a façanha de Armstrong, os Estados Unidos foram coroados em sua batalha pela corrida espacial com a então União Soviética, que já havia colocado um cachorro e um tripulante, Yuri Gagarin, no espaço, mas não conseguiu chegar muito além da atmosfera terrestre. 
A iniciativa foi, no entanto, extremamente dispendiosa. 
"Enviar uma nave tripulada à Lua era extremamente caro, e realmente não há uma explicação verdadeiramente científica para sustentá-la", explica à BBC Mundo Michael Rich, professor de Astronomia da Universidade da Califórnia em Los Angeles. 
Trump assinou uma ordem presidencial para a Nasa enviar novamente missões tripuladas à Lua
De acordo com o especialista, para além do interesse científico, por trás das missões à Lua encontravam-se razões políticas - basicamente a competição pelo controle do espaço. 
Ao longo dos anos, com a Lua "conquistada" pelos Estados Unidos, pisar no satélite começou a perder o interesse. "Não havia justificativa científica ou política para retornar", diz Rich. 
George W. Bush propôs em 2004, durante seu mandato, um plano semelhante ao de Trump: enviar uma nova tripulação à Lua e, de lá, abrir as portas para a conquista de Marte. 
Mas o projeto se desfez, segundo Rich, pela mesma razão pela qual não havia se repetido antes: seu custo.
Muitas iniciativas privadas buscam um modelo de negócios espacial para explorar minerais da Lua
O governo Barack Obama, que sucedeu Bush, não se mostrou disposto a gastar os US$ 104 bilhões (o equivalente a R$ 344,44 bilhões) calculados como o custo da empreitada. 
"Na prática, é muito difícil convencer o Congresso a aprovar um orçamento tão exorbitante quando, a partir do ponto de vista científico, não havia razões suficientes para retornar à Lua. O projeto Apollo (para levar o homem até lá) foi grandioso, mas pouco produtivo cientificamente falando", comenta. 
Durante os anos do programa, o montante que o governo dos Estados Unidos destinava aos projetos da Nasa representava quase 5% do orçamento federal. Atualmente, corresponde a menos de 1%. 
Rússia pretende ter uma nave na superfície da lua em 2031 - a China prevê pousar ali no ano que vem | Foto: ESA
"Naqueles anos, os americanos estavam convencidos de que destinar tal quantia para esses projetos era necessário. Depois disso, acredito que a maioria da população não estivesse muito convencida da ideia de que seus impostos fossem destinados a um passeio pela Lua", afirma. 
Outra razão, comenta, é que a Nasa se viu envolvida em outros projetos mais importantes nos anos que se seguiram: novos satélites, sondas a Júpiter, pôr em órbita a Estação Espacial Internacional, investigações sobre outras galáxias e planetas, ou seja, projetos que tinham mais "relevância científica" do que uma potencial viagem de volta ao satélite. 
Jeff Bezos, o magnata da Amazon, é um dos grandes empreendedores do espaço
A NOVA CORRIDA ESPACIAL 
As potenciais viagens à Lua começaram, no entanto, a ganhar novamente interesse nos últimos anos. 
Há cada vez mais iniciativas estatais e privadas que não só anunciam um retorno ao satélite, mas também planos ambiciosos de colonização, a maioria baseada no barateamento de tecnologias e na fabricação de naves espaciais. 
A China, por exemplo, planeja pousar na superfície da Lua em 2018, enquanto a Rússia anunciou que pretende ter uma nave ali em 2031. 
Enquanto isso, muitas iniciativas privadas buscam um modelo de negócios espacial que englobe desde explorar os minerais que existem na Lua até vender fragmentos do satélite como pedras preciosas. 
E, ao que parece, os Estados Unidos não querem ficar para trás. 
NOVAS JUSTIFICATIVAS 
A agência espacial americana sustenta há anos que ainda existem grandes razões para voltar à Lua. 
A Nasa considera que o retorno do homem poderia trazer um maior conhecimento da ciência lunar e permitir a aplicação de novas tecnologias no solo. 
Além disso, Laurie Castillo, porta-voz da Nasa, assegurou à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, que a agência continua na Lua - mesmo sem a presença humana. 
"Temos hoje a Lunar Reconnaissance Orbiter (uma sonda especial americana lançada em 2009 para exploração da Lua), que está fazendo coisas impressionantes", disse 
"Mas quando se leva em conta o desenvolvimento tecnológico que alcançamos, você se pergunta se ainda é necessário enviar um homem fisicamente à Lua para comprovar qualquer tecnologia. Então você conclui que as razões para voltar fogem novamente ao meramente científico", opina o professor Rich. 
Logo, o anúncio feito por Trump tem fundo político, avalia. 
"Acredito que ele queira dar a ideia de que os Estados Unidos não ficarão para trás na nova corrida espacial." 
Dados os avanços tecnológicos e a aposta do setor privado na conquista especial, Rich não acredita que uma base na Lua ou em Marte esteja longe da realidade. 
"Em menos de cem anos, estou quase certo de que a Lua estará muito próxima e que estaremos explorando outros lugares do Universo."

O minúsculo país que lidera a 'corrida do ouro' espacial




O minúsculo país que lidera a 'corrida do ouro' espacial
Muitos executivos do setor da tecnologia têm vendido a ideia de Marte como o próximo destino do homem fora da Terra. Mas eles talvez estejam mirando longe demais. A chance mais imediata de nos estabelecermos fora do Planeta Azul está bem mais perto, e esse caminho será provavelmente traçado por empresas pouco conhecidas. 
Colonizar a Lua servirá como um modelo do que se pretende fazer em Marte, dizem cientistas da agência espacial americana, a Nasa. E aqueles que ocuparão instalações no satélite natural serão, provavelmente, empregadas de pequenas empresas privadas de mineração – e não magnatas de tecnologia. 
Muitas dessas companhias estão ligadas à pequena nação europeia de Luxemburgo. E o mais surpreendente é que a Nasa estima um prazo de quatro anos para o início dessa colonização. 
Takeshi Hakamada é um dos nomes que ousadamente quer voltar a pisar no solo, repetindo o ato que, na década de 1960, representou um "salto para a humanidade". Desta vez, no entanto, há um sonho muito mais comercial por trás: vasculhar a Lua em busca de, além de água, recursos minerais e gasosos. 
Hakamada é o CEO do iSpace, uma empresa espacial com base em Tóquio, mas que também tem presença em Luxemburgo. A companhia planeja completar uma órbita lunar em 2020, e então tentar uma aterrissagem no satélite natural em 2021. 
"Nossas primeiras duas missões serão uma demonstração de nossa tecnologia. A partir daí, começaremos a estabelecer um serviço de transporte de alta frequência para levar clientes à Lua", afirma. "Se encontrarmos água, poderemos desenvolver uma indústria de recursos totalmente nova no espaço." 
A descoberta de uma baía de água congelada seria um momento extraordinário para nossa espécie, pois permitiria que humanos permanecessem por mais tempo fora da Terra. 
Hakamada está longe de ser o único com ambições cósmicas. Dez companhias de mineração espacial (incluindo a iSpace) se estabeleceram em Luxemburgo desde a aprovação, em fevereiro de 2016, de uma lei local para a exploração de recursos espaciais. A tendência foi impulsionada por um fundo no valor de US$ 223 milhões (R$ 840 milhões). 
Além da Lua, cerca de 16 mil asteroides que orbitam próximos à Terra também estão na mira das empresas. A quantidade de minerais desses corpos celestes é tamanha que sua exploração poderia levar ao surgimento do primeiro trilionário do mundo, segundo especialistas como o renomado astrofísico Neil deGrasse Tyson. 
A aprovação da lei em Luxemburgo acelerou a nova corrida espacial. Agora, o país é o segundo no mundo – depois dos EUA – a ter uma estrutura legal abrangente de exploração dos recursos fora da Terra. 
"Desde fevereiro de 2016, quase 200 empresas entraram em contato", afirma Paul Zenners, representante do Ministério da Economia de Luxemburgo, que coordena a iniciativa do governo SpaceResources.lu. 
A estrutura legal espacial de Luxemburgo tem diferenças importantes da dos EUA. Em terras americanas, é exigido que companhias tenham mais de 50% de capital ali. O país europeu não impõe tal limitação e, além de ser um dos locais com o maior PIB per capita, também é visto por alguns como um paraíso fiscal – oferece incentivos e benefícios fiscais, incluindo taxas extremamente baixas para a repatriação de capital. 
Americanos interessados 
A entrada de Luxemburgo na corrida por recursos especiais atraiu as maiores empresas americanas do ramo, incluindo a Deep Space Industries e a Planetary Resources. 
Esta última têm investimentos do empresário Richard Branson, do grupo Virgin, e de um dos fundadores do Google, Larry Page. É ainda uma das mais antigas da indústria espacial e vendeu uma participação para Luxemburgo por US$ 28 milhões (R$ 105 milhões). Não se sabe o quanto isso representa, mas o diretor da empresa admite que o país europeu é um dos principais investidores. 
O Ato de Recursos Espaciais de Luxemburgo abriu as portas para os investimentos no setor. Hoje, o Ministério da Economia diz que a indústria espacial representa em torno de 1,8% do PIB nacional, a maior proporção de qualquer país europeu. 
Mas apesar de receber altos investimentos, a indústria de mineração espacial ainda lida com as armadilhas de leis ambíguas. 
"Não está claro se a lei internacional espacial permite ao país o direito pela propriedade dos recursos naturais extraídos do espaço", apontou um estudo da Allen and Overy, um escritório de advocacia de Luxemburgo. 
Depois que os EUA aprovaram a primeira lei de mineração espacial em 2015, a Rússia foi um dos países a levantar objeções. 
Para entender a ambiguidade, voltemos ao Tratado do Espaço Exterior de 1967, um acordo do período da Guerra Fria proibindo a apropriação de corpos celestes por países. Nele, o espaço é entendido como uma propriedade coletiva, como a Antártida. 
O desenvolvimento militar é bastante limitado no espaço devido ao acordo, assinado por 105 países. Para implementar a Força Espacial recentemente anunciada pelo presidente Donald Trump, Washington teria que sair do tratado, isolando ainda mais os EUA. 
Mas o acordo de 1967 não faz qualquer referência à propriedade dos recursos espaciais, para os quais os EUA e Luxemburgo decidiram definir regras. E provavelmente não serão os únicos: os Emirados Árabes Unidos recentemente estabeleceram uma parceria com Luxemburgo para entender a estrutura de sua lei promulgada. 
"A lei de Luxemburgo sobre exploração e uso de recursos espaciais aborda isso (a omissão) e traz mais clareza a nível nacional, servindo como um primeiro passo para permitir atividades com recursos espaciais", diz Zenners. 
"Não tem o objetivo, propósito ou efeito de abrir caminho para qualquer apropriação de corpos celestes. Apenas a posse dos recursos espaciais é abordada no marco legal, que também estabelece normas para a autorização e supervisão de missões", completa. 
Desta forma, Luxemburgo pode ficar na liderança na corrida pelas riquezas do espaço. 
"Junto aos EUA, Luxemburgo provou ser um país com visão de futuro, e seu sucesso permitirá que empresas privadas conduzam profundas missões espaciais", diz Bill Miller, CEO da empresa americana Deep Space Industries, que usa Luxemburgo como sua sede europeia. 
Se os lucros da indústria começarem a brotar em um futuro próximo, provavelmente Luxemburgo estará em evidência. 

Por: Justin Calderon - BBC Future / bbc.com/portuguese